O coelhinho que não era de páscoa

O Coelhinho Que Não Era de Páscoa: Uma História Sobre Sonhos, Escolhas e Afetos

A literatura infantil tem o poder de, com histórias simples e encantadoras, abordar temas profundos que falam tanto às crianças quanto aos adultos. Um excelente exemplo disso é o livro "O Coelhinho Que Não Era de Páscoa", escrito por Ruth Rocha, uma das maiores autoras da literatura infantil brasileira.

Publicado pela primeira vez em 2009, pela Editora Salamandra, o livro é direcionado ao público infantil, especialmente para crianças de 4 a 8 anos. Com uma linguagem acessível e ilustrações delicadas, Ruth Rocha consegue transformar uma narrativa aparentemente leve em uma reflexão sobre identidade, escolhas e afetos.

A história gira em torno de Vivinho, um coelhinho nascido em uma família muito tradicional — todos seus parentes eram coelhos de Páscoa, encarregados de entregar ovos coloridos às crianças. No entanto, Vivinho descobre que não compartilha o mesmo sonho que o restante de sua família. Seu desejo de seguir um caminho diferente gera conflitos internos e externos, levando-o a enfrentar desafios para afirmar sua identidade e vocação.

  • A escolha da profissão

Desde muito cedo, as crianças começam a ouvir sobre o que “devem ser” quando crescerem. Muitas vezes, essas expectativas vêm carregadas da influência familiar, seja através de tradições, profissões de gerações anteriores ou sonhos que os pais transferem para os filhos.

Em "O Coelhinho Que Não Era de Páscoa", Ruth Rocha ilustra de forma sensível essa realidade. Vivinho nasce em uma família onde todos são coelhos de Páscoa — essa é a regra, o esperado, o "certo" a fazer. No entanto, ele sente que seu coração pulsa por algo diferente.

Esse conflito entre o que se espera de nós e aquilo que realmente desejamos ser é algo que acompanha todos nós ao longo da vida. Para as crianças, esse livro é uma introdução suave ao conceito de que está tudo bem ter sonhos próprios, mesmo que eles não correspondam às expectativas externas.

O exemplo de Vivinho nos ensina que manter nossa individualidade é um ato de coragem. Mostrar às crianças que elas têm o direito de escolher seus próprios caminhos, respeitando suas vocações e desejos internos, é essencial para o desenvolvimento de adultos mais felizes, criativos e autênticos.

Além disso, o livro serve de reflexão para os adultos sobre a importância de apoiar as escolhas dos pequenos, mesmo quando elas fogem dos padrões que esperávamos.

  • A dificuldade de fazer nossas próprias escolhas.

Uma das partes mais delicadas da história de Vivinho é o momento em que ele precisa se posicionar em sua família para seguir seu sonho.

Ruth Rocha trata essa situação com muita ternura, mostrando que, muitas vezes, seguir o próprio caminho implica em desapontar aqueles que amamos. Romper com as expectativas familiares não significa deixar de amar ou abandonar a família, mas sim honrar quem nós realmente somos.

Para as crianças, essa é uma lição importante: é possível respeitar a família e, ao mesmo tempo, construir um caminho próprio. A história de Vivinho ensina que às vezes é preciso coragem para dizer "eu sou diferente", e que essa diferença não precisa ser motivo de conflito, mas de crescimento.

Essa dimensão emocional da narrativa ajuda as crianças a entenderem que os momentos de afastamento e conflito fazem parte do amadurecimento. Ela também encoraja o diálogo aberto entre pais e filhos, permitindo que cada um expresse seus sentimentos e expectativas.

Em um mundo que, muitas vezes, valoriza mais a obediência do que a autenticidade, "O Coelhinho Que Não Era de Páscoa" é um convite para a reflexão sobre como equilibrar amor, respeito e liberdade.

  •  Amizade trazendo novos afetos e aprendizagens

Ao se afastar de sua família para perseguir seu sonho, Vivinho encontra novos amigos que o apoiam e o encorajam. Eles se tornam, de certa forma, uma nova família para ele — uma família escolhida, construída a partir de afinidades, respeito e carinho.

Essa parte da história é fundamental para mostrar às crianças que, embora a família de origem tenha um papel crucial em nossas vidas, os amigos também podem se tornar fontes riquíssimas de afeto, apoio e aprendizado.

Vivinho aprende e cresce muito em seu novo círculo de convivência. Com seus amigos, ele é valorizado por suas diferenças e é aceito como é. Isso reforça a ideia de que a construção de novas relações pode ser uma experiência de pertencimento e felicidade.

Para as crianças, essa é uma mensagem poderosa: os amigos são uma extensão da família e podem ser um apoio essencial para a jornada da vida. Para os adultos, é um lembrete de que criar espaços de acolhimento, diversidade e respeito é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças.

Essa nova família que Vivinho encontra mostra que laços afetivos sinceros e baseados no respeito mútuo são tão importantes quanto os laços de sangue.


"O Coelhinho Que Não Era de Páscoa" é uma obra-prima da literatura infantil que fala sobre identidade, coragem e afeto. Ruth Rocha, com sua escrita acolhedora e sensível, oferece muito mais do que uma história de coelhinho: entrega uma profunda reflexão sobre o direito de ser quem se é, mesmo diante das expectativas do mundo ao redor.O livro ensina que escolher nossos próprios caminhos não é fácil — pode envolver conflitos, perdas e afastamentos —, mas também abre portas para encontros significativos, crescimento pessoal e felicidade genuína.

Para pais, educadores e todos que convivem com crianças, esta obra é uma ferramenta preciosa para conversar sobre escolhas, sonhos e relações. Para as crianças, é um abraço literário que diz: "Você pode ser quem quiser ser, e será amado por isso."